Transições profissionais são muitas vezes resultado das escolhas que nós fazemos, mas podem também ser provocadas por fatores externos, fora do nosso controle. Nessa última categoria, uma das mudanças mais traumáticas e difíceis de processar, é aquela que acontece como consequência de uma demissão. Há alguns meses , eu iniciei uma parceria com um executivo, que teve a sua carreira (de 10 anos) numa multinacional abruptamente interrompida. Ele tinha um objetivo bem prático para as nossas sessões; queria iniciar uma nova carreira, construir uma nova identidade profissional e definir um plano muito claro de como chegar lá. Quando começamos a explorar o contexto, o momento presente, se tornou evidente que havia obstáculos ‘internos’ importantes. A ‘dor da perda’ não tinha sido processada e havia um risco grande de que essas emoções ‘sabotassem’ os objetivos que ele queria atingir.

Eu então propus que a gente explorasse a situação com uma perspectiva mais ampla. E pra fazer isso, uma das ferramentas que eu considero mais úteis é o Modelo de Transição de Bridges (imagem abaixo). O conceito que ele apresenta é simples, quase óbvio, e quem sabe por isso mesmo, gere reflexões tão ricas pra quem está no processo de mudança.

A área amarela na figura acima representa a ‘Fase de Encerramento‘, ou seja o período em que a pessoa se ‘desconecta’ da antiga forma de trabalhar, da sua identidade anterior e reconhece as coisas que se perderam. Sempre tem algo que se perde né? E era exatamente essa fase que o meu cliente estava evitando encarar. Querendo passar rapidamente para o ‘Novo Começo‘ (área azul acima) ele hesitava em reconhecer as emoções que sentia e achava que se as ignorasse, elas iam desaparecer. Na verdade, ele não se permitia sentir, achava que era sinal de fraqueza.

Com a ajuda desse modelo, aos poucos fomos alternando as discussões mais ‘práticas’ (revisão das ações e planos para o futuro) com conversas sobre as emoções resultantes da perda do emprego anterior. Mais que isso, discutíamos como essas emoções impactavam a sua capacidade de se mover em direção ‘ao futuro’ e como lidar com isso. Uma parte importante do nosso trabalho foi explorar a Zona Neutra (a área verde no centro do gráfico) que é aquele período onde ainda não estamos totalmente ‘desconectados’ do passado e sem ainda saber como vai ser o ‘futuro’. O que ajuda bastante é entender que essa é uma fase necessária, e que é natural se sentir um pouco desorientado e meio sem saber pra onde ir.

O trabalho do Parceiro de Transição é, entre outras coisas, apontar para as oportunidades que se apresentam enquanto se atravessa a Zona Neutra. Sim, esse é um momento de planejar e ‘por a mão na massa’ nos aspectos práticos que vão te levar ao ‘futuro’. Mas é também uma fase fundamental para a reflexão. Para celebrar as vitórias passadas, aceitar as perdas e explorar com bastante consciência as alternativas para o ‘Novo Começo’. É o momento de criar esse futuro, de uma maneira totalmente alinhada com os valores e objetivos pessoais.

Ajudar a transformar o potencial desconforto e confusão da Zona Neutra, num período de descobertas e alinhamento com valores pessoais é uma das melhores coisas desse meu trabalho como Parceira de Transição. Quanto ao meu cliente, ele está agora bem mais consciente das coisas que o ‘puxavam para trás’, por isso tem o controle e pode de fazer melhores escolhas. Ele está agora seguindo confiante em direção a sua nova carreira, ao seu novo começo.

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